fevi's Reviews (834)

challenging emotional reflective medium-paced
Plot or Character Driven: Character
Strong character development: Complicated
Loveable characters: Yes
Diverse cast of characters: Yes
Flaws of characters a main focus: Yes

Acredito que a melhor analogia para explicar Damas da Lua é que foi construído como uma colcha de retalhos. É um livro simples e sem reviravoltas. Nós vamos acompanhado momentos que marcaram os personagens presentes no livro em uma linha temporal de memórias que vão e voltam a todo instante. Uma colcha de retalhos é feita com vários pedacinhos diferentes de tecidos e outros que se repetem. Jokha Alharthi faz uso disso em seu livro. Os capítulos são curtos e em cada um deles é focado em um personagem e nas coisas que acontecem ao seu redor. Alguns são narrados em primeira e outros em terceira pessoa. No final acabam construindo uma boa história.

Eu, particularmente, gostei e achei interessante. Há passagens bem bonitas e interessantes. A forma como é narrado e a estrutura de capítulos curtos acabam fazendo com que a leitura seja bem fluida. É verdade que por ser uma história de retalhos muitas coisas acabam ficando sem explicação ou acabam não ornando quando é concluída. Há muitos personagens que acabam se entrelaçando durante a passagem do tempo e isso às vezes me confundia ou deixava perdido. Não é um livro perfeito, mas é de certa forma interessante.

Gosto muito livros que se passam longe das realidades e culturas que conheço porque é sempre uma viagem para o aprendizado por menor que seja. Esse é o trunfo que me conquistou em Damas da Lua. Gosto também como a autora trabalha os traumas geracionais nas famílias e como isso acaba afetando as nossas relações. Esse é o grande foco para mim: a família. As relações de mães com filhas, filho com pai, tios e sobrinhos. E até mesmo com os empregados escravizados. Claro que há outros temas discutidos como casamento, o desejo de crescer, violência, abuso e amor, mas tudo de forma bem simples. Recomendo por ser uma leitura simples e prazerosa. No entanto, alerto que é uma história que possui os seus problemas.


dark reflective tense fast-paced
Plot or Character Driven: Character
Strong character development: No
Loveable characters: Yes
Diverse cast of characters: No
Flaws of characters a main focus: No

Acho a proposta de A noite devorou o mundo muito interessante. Em uma pandemia de zumbis que assola o mundo o autor foca não na questão da luta pela sobrevivência e sim em como essa situação afeta seu personagem. O personagem está seguro e essa abertura dá espaço para que ele possa refletir sobre a sua vida. Como é estar sozinho no mundo rodeado por zumbis? Como isso reflete em sua nova forma de viver, de sentir e de estar no mundo? É assim que ao longo de capítulos curtos a gente vai vendo os momentos de euforia, tristeza e reflexões de Antoine. Há passagens bem interessantes, mas acabou que não me conquistou por completo. É uma leitura boa, mas que ficou faltando algo.
dark mysterious sad tense fast-paced
Plot or Character Driven: A mix
Strong character development: Yes
Loveable characters: Yes
Diverse cast of characters: No
Flaws of characters a main focus: Yes

Os homens REALMENTE não amavam as mulheres. Estou horrorizado! Essa família Vanger é escrota. Lisbeth é total badass e intrigante.

A leitura de Os homens que não amavam as mulheres flui pra caralho e o mistério é construído de forma interessante prendendo bastante a sua atenção. Larsson consegue construir planos de fundo com qualidade para cada personagem. Além disso, constrói relações e acrescente elementos históricos, políticos, econômicos que trazem um suporte sólido para o enredo que deseja criar e nos apresentar. No entanto, para mim, há muitas passagens no livro que poderiam ser cortadas que acrescentam muito. Tirando isso é excelente. Super recomendo a leitura. 

emotional informative inspiring reflective sad medium-paced

A ausência que seremos é uma montanha-russa de sentimentos. Nesse livro de memórias Héctor Abad relembra os momentos de sua vida, mas com foco em seu pai o médico-sanitarista colombiano Héctor Abad Gómez. Héctor filho vai relembrando os momentos marcantes da vida de sua família até o dia do assassinato de seu pai. 

No entanto, esse livro é muito mais sobre o amor. A relação entre um pai amoroso, seu filho e família. Pela luta por direitos e saúde dos mais pobres e oprimidos. Pela defesa dos direitos humanos. É uma homenagem ao grande amor que um filho recebeu de seu pai. Mas o interessante e intrigante é que Héctor Abad não constrói uma imagem perfeita do próprio pai. Mesmo sendo um homem que defendia com unhas e dentes os mais necessitados, Héctor Gómez tinha suas fraquezas e seus preconceitos. Ao ler sobre esses momentos pus-me a pensar mais uma vez que nós seres humanos não somos inteiramente maus ou bons. É claro que não abro um espaço aqui para defender pessoas que comentem atos atrozes. É preciso discernir e ponderar. 

Enfim, a questão é Héctor Abad Gómez foi um grande homem, com consciência dos seus privilégios e justamente por ter esse esclarecimento que lutou tanto por aqueles que não conseguiam ou tinham voz. Acompanhar as memórias de seu filho é também acompanhar suas lutas, amores, dores e tentativas de mudar o mal que assombra a América Latina. Diferente do que muitos pensam esse mal não é o comunismo. É a pobreza, a ditadura, a violência, o capitalismo e os seus desdobramentos. É triste perceber que o que aconteceu com Abad Gómez na Colômbia poderia acontecer em qualquer outro território latino-americano. 

É livro permeado de momentos agradáveis, felizes e de muito amor que oscilam com tragédias, violências, escárnio, revoltas. É uma leitura que nos deixa eufórico e em prantos. Mas nos ensina muito. Seguir o caminho de quem luta e defende os direitos humanos é o caminho mais certeiro e honesto. Uma inspiração. 

Recomendadíssimo. 
dark emotional mysterious reflective sad tense fast-paced
Plot or Character Driven: Character
Strong character development: Yes
Loveable characters: Yes
Diverse cast of characters: No
Flaws of characters a main focus: No

 
Quando nos deixamos levar sem resistência pela onde sumiços, chega o momento em que tudo se acomoda.


Antes eu queria entender os porquês dessa história. Por que isso acontece? Como isso? Quem está por trás disso tudo? Mas em determinado momento a situação me pareceu tão surreal que não faria mais sentido ficar procurando respostas. O que me restava era apenas lamentar, ficar desconfortável e incomodado.

Terminei o livro com uma sensação ruim. É como se estivesse vivendo em um período ditatorial sem ao menos conseguir rebelar-me. A passividade nos destrói quase sempre. É um excelente livro para refletir e para não esquecer da importância da memória e da História. Recomendo 
challenging emotional informative inspiring reflective slow-paced

 
O feminismo é a luta para acabar com a opressão sexista. Seu objetivo não é beneficiar apenas um grupo específico de mulheres, uma raça ou classe social de mulheres em particular. E não se trata de privilegiar a mulher em detrimento do homem. Ele pode transformar nossas vidas de um modo significativo. E o mais importante: o feminismo não é um estilo de vida, nem uma identidade pré-fabricada ou um papel a ser desempenhado em nossas vidas pessoais.


ESSENCIAL é a palavra que define essa leitura para mim. Eu já tinha entrado em contado com o pensamento feminista de bell hooks com a minha leitura de O feminismo é para todo mundo . Em Teoria Feminista encontrei pensamentos e críticas mais aprofundadas. A essência é a mesma: para haver uma revolução que avance contra a opressão sexista e o patriarcado é necessária uma luta em que mulheres e homens se unam para combatê-los. É extremamente indispensável que o movimento feminista una raça, sexo e classe porque essas opressões estão conectados pelo sexismo patriarcal.

hooks tece inúmeras críticas ao feminismo branco, liberal e individual. Ela aponta o quanto foi prejudicial para o movimento as mulheres brancas escolherem apenas lutas que beneficiariam somente elas sem que houvesse uma conversa, uma interscção com mulheres de outras etnias e de classes mais pobres. Não há como um movimento político que deseja acabar com a dominação masculina seja feito com ideais liberais sem uma força coletiva que junte diferentes indivíduos da sociedade. Para que haja uma mudança é de importância significativa que mulheres e homens se unam. bell hooks defende a presença de homens na luta feminista não só porque o sexismo também os afeta, mas justamente por eles serem o pivô principal dessa opressão. Portanto, é essencial que eles entendam o quanto isso é prejudicial. Assim sendo lutarão para miná-la.

Gosto de como a hooks vai apresentando a importância do feminismo em diferentes situações e discutindo as soluções. Isso tudo de forma muito clara de ser entendida. A minha única crítica é mais sobre o capítulo em que ela aborda sexualidade. Acredito que ali deveria ter mais um aprofundamento. No entanto, a clareza e a forma como ela nos educa sobre o movimento e quebra visões brancas, classistas e racistas do feminismo que está impregnado no imaginário coletivo é excepcional. Para quem quer aprender, entender e lutar contra a opressão sexista essa leitura é mais que essencial, é obrigatória. Para refletir e colocar em prática todos esses ensinamentos. Recomendadíssimo. 
dark mysterious reflective medium-paced
Plot or Character Driven: Character
Strong character development: Yes
Loveable characters: Yes
Diverse cast of characters: No
Flaws of characters a main focus: Complicated

Sensual, envolvente e instigante. 

A estória construída por Anne Rice tem esses adjetivos e muito mais. A tradução de Clarice Lispector tornou tudo mais envolvente para mim. As reflexões e questionamentos filosóficos durante a leitura foram um ponto a mais. Gostaria de ter lido mais sobre o surgimento dos vampiros e mais repostas sobre o que acabou ficando em aberto. Mas como a série é longa é provável que ela trabalhe esses questionamentos nos outros livros. 

É um livro mais reflexivo, mas gostoso de ser lido. Apesar do finalzinho ser previsível, é interessante. Recomendo. 
emotional funny hopeful inspiring lighthearted relaxing sad fast-paced
Plot or Character Driven: A mix
Strong character development: Yes
Loveable characters: Yes
Diverse cast of characters: Yes
Flaws of characters a main focus: Yes

 
Ninguém é apenas bom ou apenas ruim. Eu sei disso, claro. Tive que aprender isso bem cedo. Mas às vezes é fácil esquecer uma verdade como essa. E que ela se aplica a todo mundo.


Dito isso, Elevyn Hugo é uma arrombada e Taylor Jenkins Reid é homofóbica.

Entretanto, não vou limitá-las a isso. Os sete maridos de Evelyn Hugo é um deleite. Uma história super agradável de ser lida. O hype me pegou. Evelyn é uma personagem complexa, com comportamentos questionáveis, mas um carisma inigualável. Talvez tenha sido isso que tenha conquistado tantos leitores. Jenkins Reid soube construir bem uma personagem que mexesse com os sentimentos de quem lia sobre ela. Mas também um enredo que funcionasse com aquilo que ela gostaria de contar. Não só abordando situações conflitantes, mas discutindo assuntos importantes como sexualidade, sexismo, violência contra mulher, aborto, homofobia entre tantos outros temas.

A escrita é gostosa e faz a leitura fluir. Mas gostaria ter lido algo com um viés mais adulto não nego. Acho que teria acrescido mais na história. No entanto, não deve ter sido uma escolha da autora. Gostaria de visto uma discussão sobre o apagamento da origem de Hugo e algo mais sobre a Monique. Enfim, é um ótimo livro e com uma história super agradável e que recomendo. 
medium-paced

Todo esse amor que inventamos para nós é mais um caso em que o autor foca na escrita e deixa o enredo de lado. Há contos bons e muitos bons, mas não há nenhum excelente ou excepcional. Nenhum que te arrebate. Os simbolismos e as metáforas, na minha concepção, foram exageradas. Usadas em demasia. Em alguns contos funcionava bem, mas em outros não ornavam. Os enredos fracos talvez tenham feito diminuído o poder delas para mim. Só no conto de abertura, Nós, a casa, foi usado de forma magnífica. Apesar de focar em personagens LGBTQIA+ e nas suas vivências sofridas o autor parece que não consegue ir além disso. Não foi uma leitura ruim, mas foi uma bomba nas minhas expectativas. 
reflective
Plot or Character Driven: Character
Strong character development: Yes
Loveable characters: Complicated
Diverse cast of characters: Yes
Flaws of characters a main focus: Yes

Eu logo de cara gostei de Edie, a protagonista narradora de Luxúria. Nesse primeiro momento ela me pareceu uma personagem imperfeita que não seria definida somente pelo racismo. Porque basicamente esses são os arcos narrativos conduzidos para pessoas negras em algumas histórias. Ainda acredito que ela não é uma personagem perfeita e isso, para mim, é um destaque significativo. Mas ao longo da leitura fui entendo os motivos dela não ser perfeita. Leilani não cria um livro com respostas dadas, ela vai conduzindo o leitor para que ele entenda o que o mundo faz com a sua personagem.

Edie tem um caso com Eric, um homem de meia-idade que está em um relacionamento aberto. Ele vinte anos mais velho que ela. Em determinado momento ela perde seu emprego como editora e acaba indo para a casa de seu amante. Nesse meio tempo vemos como o ambiente racista acaba conduzindo a vida de Edie. Mas não só ele, o capitalismo, o machismo e o seu passado com uma mãe que tirou a própria vida e um pai que não fazia questão de ser muito presente também a afetaram. 

Em um ambiente de trabalho onde só existe ela e mais uma colega negra há um indício de rivalidade entre mulheres negras que precisam mostrar o seu melhor e agirem de maneira que os brancos as aceitem. Após ser despedida a protagonista procura por serviços em entrega de aplicativos onde ela percorre a cidade toda para ganhar pouco e não conseguir o suficiente para se sustentar. O capitalismo age de forma extremamente selvagem e não permite que ela consiga viver do que ela realmente quer: ser artista. Viver da sua arte é algo postergado não só pelo sistema econômico, mas também por não conseguir se enxergar como uma e por receber retornos e avaliações negativas sobre as suas peças. 

Outra questão importante é como Edie se enxerga e o amor que ela acredita merecer. Isso acaba afetando todas as suas relações. Em certo momento ela afirma que transforma homens medíocres em deuses para não perder o amor raso que eles a oferecem. Uma mulher no início da vida adulta que é bombardeada por situações conflitantes e esmagadoras. Por não ter tido uma família e um ambiente saudável na infância e adolescência criou uma imagem de que não merecia um amor simples, leve, saudável. 

O mais aterrorizante disso tudo é que o livro é narrado em um clima angustiante. É desconfortável de se ler. A todo momento você espera que algo de extremamente de ruim aconteça. O período que Edie passa na casa de Rebecca e Eric é estressante e estimulante ao mesmo tempo. Há inúmeros exemplos de pequenos racismos, gestos e situações que ficam a ponto de explodir. Mas Edie nem sempre se permite ser corajosa para encará-los, sua autoestima não permite. Ela apenas aceita por estar em um lugar em que não se sente completa. Há tanto nessa história.

Enfim, não sei se consegui fazer um apanhado interessante sobre o livro. Até deixei partes importantes de fora. A obra acaba sendo complexo por não deixar tudo apontado ou até mesmo por não discutir mais profundamente algumas situações. No entanto, no cotidiano as coisas são assim: nem tudo é escancarado. Inclusive entendo que não curte o enredo. Ele não tem reviravoltas ou grandes acontecimentos. O livro se engrandece nas pequenas situações cotidianas, no passado da personagem e como a sociedade atual suga toda sua vida. É uma leitura agradável, mas não sei se é para todo mundo.