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bibilly 's review for:

Every Heart a Doorway by Seanan McGuire
2.0

eu estava pronta para ler essa série de cabo a rabo. de fato, nos primeiros capítulos fiquei encantada com a escrita de McGuire, mas, dando uma olhada na minhas marcações no kindle, o número de trechos destacados por capítulo foi diminuindo até que não houvesse nenhum destaque nos dois últimos além de notas questionando o enredo.

de algum modo a beleza da escrita se perdeu no vazio da trama e dos seus personagens. entendo que em poucas páginas não dá pra desenvolver muitas coisas, mas tudo nesse livro é raso: o mistério dos assassinatos, o luto pelos colegas mortos (se é que pode ser chamado de luto, considerando a reação ou a falta dela por parte dos personagens principais diante de mortes tão violentas), a criação de mundo(s) e as motivações por trás do anseio de todos em achar a porta para "casa".

não é convincente o amor e a lealdade ardentes que cada "criança" tem pelo mundo que a acolheu. primeiro porque esses mundos não parecem interessantes pela descrição que é feita deles. segundo porque alguns deles são violentos e traumáticos??? sei lá, talvez seja uma espécie de síndrome de Estocolmo lol. ainda assim, eu não consegui entender por que a Nancy queria tanto voltar para aquele lugar escuro em que ela teria que ser uma estátua pro resto da vida. eu sei que esses mundos acolheram as crianças, inclusive a protagonista, pelo que elas realmente eram e tudo mais, mas só porque a autora vive repetindo isso ao longo do livro. talvez se o foco da história tivesse sido o trauma de apenas uma criança que passou anos num mundo mais empolgante que este em que vivemos e de repente o perdeu e não pôde mais encontrá-lo, ela fosse mais verossímil.

por outro lado, o fato de a história se passar num reformatório para jovens que não conseguem voltar para "casa" também não é nada demais. e assim uma premissa intrigante sobre crianças traumatizadas pela perda de seu mundo fantástico particular só não fica mais chata porque o livro acaba.

quanto aos personagens, a coisa mais marcante sobre eles é que a protagonista é assexual e um dos secundários, Kade, é trans. essas características foram bem discutidas e a representatidade não pareceu vazia, embora o Kade não seja bem desenvolvido - mas nenhum personagem é. talvez porque não há tempo de conhecê-los, o que definitivamente foi o caso da Sumi, cuja passagem é breve, mas de longe a mais cativante.

ps: também me incomodou o fato de os alunos serem obcecados por encontrarem cada um a sua porta e em nenhum momento ser discutido o obstáculo óbvio que é se limitar ao terreno da escola