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3.0

Paulina Chiziane é uma escritora moçambicana que ganhou a minha admiração. A sua prosa me encanta demais. Não há como negar isso. No entanto, sempre acho que alguns dos seus enredos deixam a desejar. É o que acontece aqui em Niketche.

A autora desenvolve muito bem as suas críticas e as suas construções relacionadas aos temas que trabalha. Mais uma vez ela esmiúça a condição da mulher no mundo. Como elas são explicadas, abusadas e renegadas em um mundo dominado por homens que tenta a todo instante desprezar tudo que há de feminino no mundo. Chiziane também transcorre como ninguém como a dominação colonial influencia a vida de suas personagens, como a religião católica tem o seu apelo fervoroso e dominante sobre muitos que foram induzidos a acreditar nela. Ainda de forma especular mostra as diferenças entre as várias etnias e seus aspectos culturais. Como se sabe, em África diversas etnias foram postas no mesmo território e formam uma única nação devido ao período de colonização. Nesses quesitos a autora demonstra uma capacidade ímpar de discutir aquilo que mais afeta a condição das mulheres e daqueles que foram dominados. Além de falar tão belamente sobre os sentimentos que nos afligem.

No entanto, como ela conduz a estória como ela escolhe como as ações acontecem tiram um pouco do poder daquilo que ela deseja nos contar. Algumas vezes há muitas passagens de tempo, não há desenvolvimento de certos personagens ou explicações para suas escolhas. Enfim, a narrativa nem sempre anda com o desenvolvimento dos temas. Isso enfraquece a estória, mas não a torna desinteressante. Só um pouco menos empolgada.

Deixo a recomendação para quem quer descobrir novas leituras, mas deixo claro que o meu livro preferido da autora é O Alegre Canto da Perdiz.