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bibilly 's review for:

Carry On by Rainbow Rowell
3.0

a metalinguagem de carry on é entusiasmante. queria poder discutir todos os elementos de hp e da narrativa do escolhido que a autora inverte ou expõe pelo que são. ela faz em um livro quase tudo que jk rowling não fez em seis. e a escrita dela é muito divertida, fazendo um uso eficiente de parênteses e nos dando diálogos sagazes.

temos também múltiplas narrações em primeira pessoa, mas usar vários pontos de vista quase sempre acaba sendo um tiro no pé. se por um lado a voz do baz foi uma ótima e ansiada adição à história, por outro os capítulos da agatha eram muito irritantes. entendo o papel da personagem, e ela ganhou uns dois pontos comigo ao vingar gina weasley naquela briga com o simon, mas tenho zero paciência pra gente rica reclamando da vida.

outro tiro a sair um pouco pela culatra é o sistema mágico, que me animou muito pela abordagem linguística (a relação entre linguagem e magia é muito melhor explorada do que em hp), mas que parece excluir pessoas mudas e surdas: aqui so é considerado um mago quem controla a magia que possui, independentemente do quanto se tem dela, e esse controle é descrito como sendo possível apenas com a fala fluente e eloquente de línguas orais. talvez eu esteja exigindo demais da autora, mas pelo menos em harry potter, se não me engano, havia a possibilidade de lançar feitiços sem o uso da palavra (o que o simon faz, mas ele é uma anomalia). fiquei o tempo todo pensando se mudos e surdos simplesmente não podem usar sua magia nesse sistema.

apesar de não poder dizer que não gostei do romance ou que não destaquei momentos fofos no kindle, também não fiquei totalmente apegada ou convencida. talvez porque a autora escolha começar pelo final da história que ja conhecemos (com claras vantagens), o que impede que se conheça direito o passado de inimizade entre simon e baz mesmo com todos os flashbacks. ou talvez seja por conta (também) do apagamento bi e do comportamento do simon no começo (infelizmente ele me lembrou o alex de rwrb). porém, fico feliz de não ter havido enrolação para eles ficarem juntos, nem mal entendido por falta de diálogo depois disso.

o que não consegui mesmo engolir foi a ignorância de todos no livro (inclusive uma psicóloga), pessoas inteligentes e moderninhas, sobre a existência do b em lgbt. óbvio que há a possibilidade do simon ser gay, mas qualquer discussão na cabeça dele ou com outros personagens se limitou às opções "gay ou hétero" ou "gay, pelo menos em parte".

a grande descoberta é muito previsível e o final não me fez correr pro segundo livro, mas este volume alcança seu objetivo - que é ser a única fanfic nas minhas bookmarks a me fazer ouvir bohemian rhapsody em loop.

"'(...) But you're not the Chosen One.'
I'm not the Chosen One.
Of course I'm not.
I'm not the Chosen One.
Thank magic. This is the only thing anyone has said today that makes sense."